Crise faz disparar números de imóveis retomados por falta de pagamento
Mais de 13 mil casas e apartamentos financiados pela Caixa Econômica foram a leilão só no ano passado.
Com a crise, mais que dobrou o número de imóveis retomados por falta de pagamento em quatro anos. Mais de 13 mil casas e apartamentos financiados pela Caixa Econômica foram a leilão só no ano passado. É um drama para quem perde a moradia duramente conquistada, todo mês com o orçamento apertado. Agora, para comprar um imóvel com dívida, também é preciso cuidado.
Quem atrasa mais de três prestações pode perder o imóvel financiado. Ele volta para o banco e é leiloado. Resta quem perdeu ficar com o prejuízo e a frustração.
Sabe sonho que vira pesadelo? É bem isso: famílias perderem seus imóveis, foram todos para o leilão. Isso só de contratos da Caixa Econômica Federal que é quem financia a maior parte. E não é de hoje. Em quatro anos, mais que dobrou o número de imóveis tomados e revendidos.
O advogado de Brasília Raul Rodrigues, especializado em direito imobiliário, diz que vê de tudo. “As pessoas estão perdendo o emprego ou então tendo sua capacidade financeira diminuída severamente. Então, chega um momento, que mesmo depois de abandonar várias contas a pagar, mesmo assim elas não conseguem pagar o que é mais importante que é seu financiamento imobiliário”, afirmou.
É assim. Quem tem mais de três prestações em atraso perde o direito. Para não chegar a esse ponto de perder o imóvel, a pessoa deve tentar negociar. Pode, por exemplo, pedir para aumentar o prazo do contrato. Assim, a dívida é incluída no valor total do financiamento e diluída nas prestações. Outra opção: para quem tem FGTS pode usar para abater o que está em atraso ou a prestação atual.
Se não dá de jeito nenhum, a venda do imóvel pode ser uma saída. “Se você sabe que não tem condições, vai perder mesmo, comece a procurar alternativa de vender”, disse o economista José Eustáquio Carvalho.
Agora venda com contrato de gaveta não funciona. Não tem valor nenhum para o banco. O comerciante Irineu Hernandez comprou uma casa para o filho. Botou uma moto, um carro e dinheiro no negócio. O vendedor estava com prestações atrasadas. Se comprometeu a quitar o financiamento e passar o imóvel para o nome do novo dono. Só que não pagou nada no banco. O imóvel foi a leilão e agora a família espera a ordem de despejo.
“Fiquei com as mãos atadas, não podia fazer nada. Eu chego a chorar de noite. Não consigo nem falar”, disse o comerciante.
Imóveis leiloados têm saído mais barato. Tem gente que perde a casa própria, se reestrutura e aí aproveita o leilão. Agora, se for o caso de fazer um novo financiamento, os economistas insistem: só com planejamento. E dá para fazer.
Atraso? Tiago Sales não sabe nem o que é isso. Ele antecipa o pagamento. Está certo, que com sacrifício daqui e dali. Mas assim, agiliza e o sonho vira logo realidade. “Eu consigo juntar o 13º, as férias e fazer uma grande amortização no fim do ano. Com isso, eu vou conseguir reduzir a minha dívida de 35 anos para apenas 4 anos”, disse o servidor público.
No caso do imóvel ser leiloado com um lance acima do valor da dívida, o dinheiro excedente volta para o comprador, mas os especialistas alertam que isso é muito raro. Na maioria das vezes, quando vai para leilão, o dono tem perda total.